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MULHER COM LEVE DISTÚRBIO EMOCIONAL
Casa de Altamirando e mãe. Mãe entra em cena com um
jornal nas mãos. Está nervosa, Altamirando surge logo atrás.
Já nem sei mais o que vender, Altamirando. O das pratarias já
se foi. E olhe que vendi caro. Mau deu pras contas do mês, o que se
gasta de luz nessa casa é um assombro. Precisa arranjar uma namorada urgente.
ALTAMIRANDO (Assustado)
E você ainda pergunta? (Folheia o jornal) A herança de seu
pai se foi. A pensão não dá pra nada. Temos que achar uma
saída. Aliás, o senhor pouco ou nada tem feito a respeito.
Aí é que a senhora se engana, mamãe. Tenho os meus projetos, se derem
certo vão tirar nosso pé da lama.
Aqui diz; “ Viúva ardente e sensual procura homem de qualquer idade para
matrimônio ou relacionamento aberto e sem preconceito. Tem como única exigência
que ele tenha uma ótima situação financeira.”
Só que o nome da viúva ardente e sensual é Cornélia. O mesmo nome que o
meu. O endereço...é o nosso!
Mas isto é um absurdo! Um erro afrontoso! Vou ligar pra esse jornal e
exigir que corrijam esse disparate!
E ao final diz: “ Tratar com o senhor Altamirando” Que se não me falha a
memória , é o crápula que eu trouxe ao mundo!!
Você teve coragem de me anunciar nos classificados! É esse
seu projeto futuro? Vender a própria mãe?!
A idéia é ótima! Já recebi dois telefonemas. Pela voz eram senhores
distintos. Um de setenta e outro de noventa anos. Se eu fosse a
senhora ficaria com o de noventa.
“ Mulher com leve distúrbio emocional, procura homem para relacionamento
amoroso. Ótima situação financeira, podendo arcar sozinha com um possível
matrimônio.” Que tal?
Atenderam... Chiii... Secretária eletrônica. ( Pigarreia ) Muito boa
tarde, meu nome é Cornélia Bento Ferreira Pinto. Venho
responder ao anúncio que vossa senhoria colocou no jornal.
Meu filho ficou interessadíssimo. O nome dele é Altamirando Pinto
Junior. Rapaz de fino trato. Nós pertencemos a uma família aristocrática
paulista. Dispomos de uma reserva financeira considerável.
Eu disponho de seis reais e cinqüenta centavos, que foi o troco da
padaria. ( Conta as moedas ) Pêra aí! Aqui tem só quatros reais e oitenta.
(Caça nos bolsos)
Eu disse quase. Tem um porte físico avantajado. ( Altamirando mira-se a
procura do porte físico avantajado ) Não é coisa que se diga , mas já que essa
conversa é entre mulheres, vou cometer a indiscrição de revelar que os homens
da família provém de uma linhagem árabe e assim sendo, tem os dotes
característicos da raça.
O Altamirando eu não sei porque eu nunca vi, porém o falecido
pai dele tinha um pênis de vinte e nove ponto cinqüenta
centímetros de comprimento.
A senhora perdeu o senso de ridículo? Quer me matar de
vergonha? Não tem mais noção de certo e errado?
Nossa! Quanto pudor!! Nem parece que está vendendo a própria mãe. E
depois, de tudo que eu disse essa é a única coisa que corresponde cem por cento
a verdade.
De qualquer maneira, depois da barbaridade que a senhora disse, a mulher
não vai nem pensar em ligar.
Alô. É ela mesma. Sei. É sobre o anúncio... quer marcar uma entrevista.
Mas é claro, meu filho ficou interessadíssimo.
Tá desesperada! Deve ser mais feia que praga de mãe. Aliás, é bem esse o
caso. Tá gastando seu Latim mamãe. Manda ela ir no cais do porto. Quem sabe
descola um marinheiro turco. Melhor! Manda ir numa penitenciária. Arranjar um
preso musculoso com tatuagem de nossa senhora aparecida no braço.
EU VOU!! Diz pra ela que eu vou! Rapidinho. Pega o endereço. ( confere
as moedas ) Será que esse dinheiro dá? Vê se ela não paga o táxi.
(Anota) Anotei... é só aguardar que ele não demora. Pra você
também querida. ( Desliga) Tiramos a sorte grande! ( Entrega o endereço a
Altamirando)
Melhor! Assim , se alguma coisa der errado, você pode refletir sobre seu
fracasso na caminhada de volta.
Mas tem uma coisa me encucando. Aqui diz: “ Mulher com leve distúrbio
emocional...” O que será isso?
Ora...vai ver ela está deprimida, triste, solitária, sei lá! Aliás,
pouco importa. O importante é que ela é rica.
Muito simples. Torne-se devoto de São Jorge e peça que ele te dê forças
pra enfrentar o dragão. ( Vai até ele e lhe aperta afetuosamente as mãos ) Boa
sorte filhinho. Mamãe vai ficar aqui torcendo por você.
Está sim , já vou chamá-la. ( Mira-se ) Estou tão
desarrumada. O senhor por favor não repare, eu estava cozinhando.
Ela pega sua mão e
a traz para próximo do rosto. Altamirando a observa constrangido. Ela lhe dá
uma lambida. Altamirando recolhe a mão, assustado. A velha contrai os lábios
como quem faz uma degustação. Por fim faz o sinal de mais ou menos.
ALTAMIRANDO ( Estranhando )
Ele deixou um bilhete dizendo que entre passar mais um dia com minha mãe
e a eternidade no cemitério, ele ficava com a segunda hipótese.
Mas vamos deixar de lado essas coisas tristes. Acho que deve ter achado
estranho eu ter colocado aquele anúncio no jornal?
Sabe, senhor Altamirando, eu sou uma mulher muito sensível, uma mulher
muito romântica. Só que é difícil encontrar um homem que também seja assim. O
senhor, pelo que sua mãe disse, se auto-define como um romântico incorrigível.
Mas é claro. Sabe senhor Altamirando, ou melhor, Altamirando. Um fator
complicador do relacionamento entre homem e mulher é sem dúvida o sexo.
Grande verdade dona, digo, Suzamara. Grande verdade. O sexo é
fundamental no relacionamento. Eu sou da opinião que entre quatro paredes tudo
é permitido. Tudo! ( Se aproxima ) A gente tem que aflorar nossas
fantasias. Sejam elas quais forem. Eu, por exemplo, tenho um amigo
que toda vez que vai fazer sexo com a esposa, leva um pé de alface para o
quarto.
Não sei, isso ele nunca me disse. De qualquer forma, eu jamais comi
salada na casa dele. Sabe , Suzamara, não há nada como o sexo pra aproximar as
pessoas, principalmente pessoas que estão se conhecendo agora...como nós... (
Tom cafajeste, segura na mão dela ) de repente... eu lhe ensino um truque ou
dois.
Pois eu fico muito decepcionada, “ Senhor Altamirando” , ao saber que
tem o sexo em tão grande conta. O marido ideal pra mim terá que me
ver, no máximo, como uma irmã. O nosso contato físico não pode ir além de um
abraço fraternal. Beijo no rosto, só em ocasiões festivas.
Pois o sexo sempre foi uma obsessão pra mim! Não há bordel
nessa terra que eu não tenha freqüentado. Não há prostituta do centro da cidade
que eu não conheça pelo nome de guerra e de batismo. Não há aberração sexual
que eu não tenha experimentado ao menos uma vez!
Minha cara Suzamara, quando eu entrei no templo do grande guru indiano
Ali Bem Ali, ele me olhou e do alto dos seus poderes
telepáticos disse: “ Eis um homem completamente dominado pelo sexo!
Mas eu, Ali Bem Ali, vou curá-lo!”
Mandou entrar a mais linda dançarina de todo o oriente. Uma
mulher de tão grande beleza que as obras completas do nosso melhor poeta não
seriam suficientes pra descrevê-la. O único pano que tinha no corpo era um véu
alaranjado que usava no coque dos cabelos. Os seios eram tão esculturais que
mesmo um recém-nascido não conseguiria mamar neles sem ter um orgasmo logo em
seguida. Nem me atrevo a procurar uma imagem pra traduzir as ancas e o ventre
daquela mulher. Vou lhe contar apenas uma passagem. Contam que lá no oriente
dois exércitos estavam em vias de se destruir, de se aniquilar completamente,
quando essa mulher surgiu dançando entre eles, vestindo apenas seu véu
alaranjado. Diante de tanta beleza, os combatentes esqueceram das suas guerras,
dos seus ódios milenares, tomados que foram por aquela visão. E o ardor, o afã
de tocar naquela deusa foi tão grande, tão grande...que eles se aniquilaram
completamente. Pois bem. Esse grande guru, esse ser iluminado, olhou pra mim e
disse: “ Vou lhe ensinar um exercício de Yoga uma única vez. E se esse
exercício não lhe tirar completamente o apetite sexual, você está autorizado
por mim a fazer com essa mulher tudo que quiser. Não precisara mais do que uma
palavra e ela virá até você para lhe satisfazer até o mais obsceno dos
desejos.” Dito isto , ele me ensinou aquilo que iria mudar a minha vida; o Kaa.
( Se emociona. Enxuga lágrimas fictícias ) Desculpe... mesmo hoje
não consigo falar nisso sem me emocionar.
Então , enquanto aquela mulher esplendorosa dançava e se contorcia da
forma mais sensual possível, eu apertava as têmporas com os
indicadores e com toda energia interior, me concentrava no meu dedão do pé.
De vez em quando ela parava de dançar e recitava longos poemas, todos de
inigualável beleza. Noutras vezes proferia os piores palavrões,as
piores obscenidades. Algumas que mesmo eu não conhecia. Mas isto para mim pouco
importava. O importante era o dedão do meu pé. Nele, acredite, todo
universo estava contido. Passaram-se três dias , dona Suzamara. Três dias! A
partir de um certo ponto, uma formiga passando por mim teria muito mais chance
de chamar a minha atenção do que a dançarina. E desde aquele dia o sexo deixou
de existir completamente. E já se vão sete anos.
E eu, que quase ia cometendo uma injustiça com o senhor. Imagine que
cheguei a pensar que estivesse sugerindo fazer sexo comigo.
Se tens alguma dúvida a esse respeito, diga e eu me retiro
imediatamente! Eu até aceito que duvide de mim, já que mal me conhece, agora,
pôr em dúvida os ensinamentos e a sabedoria do supremo guru Ali Bem Ali, é
coisa que não dá pra admitir!
De jeito nenhum senhor Altamirando, digo, Altamirando. Longe
de mim insinuar uma coisa dessas. Por favor, me desculpe. ( Segura
as mãos dele ) Não vou admitir que fique magoado comigo.
Tá vendo? Até nisso combinamos. Hoje em dia as pessoas colocam o sexo a
frente de tudo nas suas vidas, quando deveriam colocá-lo fora da vida delas.
Disse-o bem dona...,digo, Suzamara. Disse-o muito bem. Vou mais longe: o
sexo é o ópio do povo. È usado como instrumento de manipulação política. Um
homem ,enquanto faz sexo, só consegue pensar em sexo.
Chega a ser um contra-senso numa era de revolução tecnológica , o sexo
não ter sido substituído por um tubo de ensaio.
Tubo de ensaio?! ( Coça a cabeça ) mas tubo de ensaio é de vidro e ainda
por cima, oco por dentro, fácil de quebrar... Sendo assim, é melhor usar um
vibrador, que é de plástico. Imaginou o vidro se partindo...aquele monte de
caquinho... ( Faz cara de horror )
Quando eu disse substituir o sexo pelo tubo de ensaio, estava me
referindo a fecundação do óvulo pelo espermatozóide.
Que cabeça a minha... Claro. Tá vendo? Tanto tempo desligado do sexo que
quando falo dele, me perco.
Minha cara Suzamara, muitas mulheres me falaram isso, e de todas, você
foi a única que falou a verdade. Por você eu ponho a mão no fogo sem medo de me
queimar.
Não sabe como é bom ouvir uma frase dessas da boca de um homem. É quase
um milagre. Afinal, existem tantas coisas no mundo além de sexo. Eu , por
exemplo, adoro música. Ouço Ray Conniff o dia inteiro. Se bem que acho ele
avançadinho demais pro meu gosto. Mas não é tão radical quanto esse Roberto
Carlos, que praticamente prega o sexo selvagem. Aquela musica “ Café da manhã”
devia ser proibida para execução publica. Aquilo é uma obscenidade. O que
devia-se fazer era... (Mudança de luz em cima dela. Ela estremece como se
tivesse tomado um choque elétrico )
Suzamara! Suzamara! Meu Deus... logo agora que estava indo tudo tão bem.
( Ela ameaça voltar a si) Coitada. Deve ser falta de sexo, a cachorrinha
pequeneza da minha tia vivia desmaiando por causa disso.
Ela volta a si.
Tem uma expressão cínica no rosto, uma postura sensual oposta a anterior.
Altamirando não percebe a mudança de personalidade.
Deve ter sido o calor, ou o frio. Alguma coisa que você
comeu, ou ficou sem comer tempo demais, sei lá! Sê ta bem mesmo? Seu rosto está
diferente.
Não se preocupe, você não vai ficar viúvo. Mesmo
porque nós ainda nem casamos. Relaxa. ( Passa de novo a mão na perna
dele )
Com saúde não se brinca. ( Ela vai até o armário e tira de lá um pote de
pó de arroz ) Ainda mais nos dias de hoje,em que o estresse é tão grande. ( Ela
senta-se no sofá , abre o potinho e se mira no espelho) Vê como ficou pálida?
Principalmente nas bochechas.
Puxa um canudinho do bolso, coloca no pó e
aspira por uma narina. Em seguida bate de leve com a ponta do dedo a narina que
aspirou o pó. Repete o processo com a outra narina.
ALTAMIRANDO ( assustado )
Nesse caso é melhor mesmo chamar um médico antes que a coisa vire caso
de polícia. A sua mãe onde está?
Pra trás do sofá. Quem sabe eu te ensino um truque ou dois. Vem...melhor
do que aqui só no telhado da mansão. Tem uma obra em frente, a piãozada
fica olhando...uma delícia...eles me chamam de cada coisa
... ( Vão para trás do sofá. Ficam visíveis apenas da cintura para
cima )
SUZAMARA ( sensual )
Ela
pega um pote de um quilo no armário. Altamirando limita-se a observá-la onde
está.
Levanta e vai até
o armário. Coloca o pote no lugar e retira de lá um outro de
duzentos e cinqüenta gramas. Altamirando a observa visivelmente contrariado.
Ela se dirige novamente para o sofá, mas para no meio do caminho parecendo
mudar de idéia. Retorna novamente para o armário e coloca o pote de volta no
lugar. Retira de lá um sache de sete gramas de maionese, do tipo que se usa
para apenas um sanduíche.
O quê? Então era essa a sua intenção ? Me fazer passar por idiota? Pois
fique sabendo que com o pouco que tenho faço o que outros, com muito, não
conseguem. O que vence a guerra é a valentia do guerreiro e não o tamanho da
espada!
Mas convenhamos que o Connan, o bárbaro, leva certa vantagem com aquela
espada enorme, diante de alguém com um canivete suíço.
Pois eu dou por encerrada essa visita! A senhora, por favor, me dê os
dois mil reais que ficaram combinados, que eu tenho os meus afazeres!
Em sexo! ( Abraça-o ) Você não vai querer estragar o que pode ser o
início de uma grande amizade por causa de uma bobagem a toa? Vem. A gente usa o
pote de um quilo, meu guerreiro destemido.
Ta bom. Assim eu te mostro o que pode um homem como eu. Verá que mesmo
um pequeno bote pode transpor um mar bravio.
É que hoje não estou afim de pegar pesado, senão ia te mostrar a minha
imitação de Elvis Presley fazendo strip-tease.
Mudança de luz.
Foco maior em cima dele. Entra play-back de uma música de Elvis
Presley. Altamirando vai cantando e imitando os trejeitos de Elvis e
ao mesmo tempo de striper. Vai dançando, rebola, desabotoa a camisa. Luz muda
sobre Suzamara, ela estremece e tem um novo desmaio. Altamirando não percebe
nada. Ela volta a si na pele de outra personalidade, assume ar sério. Vai até o
móvel retira de lá dois cinturões carregados de balas, cruza-os no peito
. Retira um outro cinturão com revólver e dois punhais e coloca-o na
cintura. Por fim um chapéu de cangaceiro e um triangulo de ferro. A música de
Altamirando atinge o auge e corta bruscamente, dando lugar a uma música
nordestina ponteada pelo triangulo de Suzamara e cantada por ela ( Play-back).
Altamirando, perplexo, fica na mesma posição em que estava.
Olha...não que a performance não tenha sido boa. De jeito nenhum. Só que
o clima não era bem esse. Uma quenga de bordel nordestino até que passava, mas
cangaceira tá meio fora do assunto. Acho que nessa você tomou ônibus errado.
Do que tu falou eu só entendi a palavra clima, quenga, nordestina e
cangaceira. E não quero lhe sangrar antes de saber o que tu disse.
Agora tô entendendo. ( Tira o punhal do pescoço dele e o guarda ) E te
aprume! Te aprume que não quero ver tuas partes. Homem dado a sem-vergonhice eu
corto o falo junto com as bolas e dou pros cachorros comer!
Não, Maria Bonita. Mulher à-toa, metida! Mas deixa estar que o lugar
dela ainda vai ser meu. Ah, se vai!
Pense bem, dona Severina, pense bem. Por causa desse homem ,
a senhora pode, literalmente, perder a cabeça.
Macaco da polícia, excomungado! To vendo um! ( Aponta o revólver para
algum ponto no fundo da platéia )
Ali! No meio das catanduvas. Olha lá a carinha dele, com arma
em punho querendo me atirar. Vou dar um tiro bem entre os olhos pra
quando chegar no inferno, o diabo não perguntar do que morreu.
Não,não,não! To calmo já. Calminho. Deve ser esse ar puro do agreste
(Aspira) Que delícia. Acalma a gente.
Pois eu to começando a achar que tu é mancomunado com a polícia. Que
veio aqui pra me entregar! Seu filho dum cão!
Pois se não é uma coisa nem outra é polícia!! Fidumaegua ,fidumajega,
fidumavaca!! ( Ameaça atirar )
Pois então atire! ( Abre a camisa num gesto de desafio )
Atire nesse coração que já nasceu dividido em dois!
Atire dona Severina! Atire! Me liberte dessa maldição que foi ter
nascido no corpo de um homem! Eu quero ser livre como uma libélula, um colibri,
um pirilampo iluminando a pradaria numa noite sem lua! Atire e depois me
enterre num caixão cor de rosa e em dia de chuva, pra mim sentir aquele
cheirinho de terra fresca. ( Lembrando ) Gente...que dia é hoje? Uma vez leram
a minha mão e me disseram que eu ia morrer numa quarta-feira.
Aí,eu não acredito...eu não acredito...vamô ter que esperar até a semana
que vem. ( Segurando no revólver dela ) A senhora promete que não esquece?
Vasta de mim cachorro bixiguento! ( Guarda o revólver ) Homem perobo não
dá gosto nem de matar. ( Pega o revólver de novo ) Tu tá me enganando cabra? Tu
é perobo mesmo?
Eu sou! De pai e mãe! Não tem homem nessa terra pra dizer que é mais
perobo do que eu! Dona Severina,quando eu entrei no templo do grande guru
indiano Ali Bem Ali...
É uma mistura de padre com pastor, só que sem cobrar nada. Quando eu
entrei no templo , ele me olhou e disse: “ Eis aqui um homem completamente
dominado pela pederastia! Mas eu , Ali Bem Ali, vou curá-lo!" Sabe o que
ele fez em seguida?
Mandou entrar o mais lindo dançarino de todo o oriente. Dona Severina,
lhe digo, homem mais gostoso do que aquele por aqui nunca se viu! O bíceps dele
era mais bem definido do que os contornos de Brasília. Me deu febre na hora.
Quarenta e dois graus, eu medi. O único pano que ele tinha no corpo era uma
toalha de mesa que usava para cobrir o pênis intumescido. Ele andando lembrava
a evolução de uma porta-bandeira , dona Severina, aquilo era uma coisa de
louco! Um homem desses dava conta sozinho da passeata gay. Tive que tomar um
frasco inteiro de novalgina pra febre baixar. Foi então...então...
Mudança de luz
sobre Suzamara. Ela tem um novo desmaio. Altamirando corre para ampará-la.
Coloca-a no sofá.
Deus do céu, de novo! O que será que vai baixar agora? Espero que seja
uma preta-velha, assim ela aproveita pra me dar um passe. Na dúvida, deixa eu
recolher o armamento.
Que coisa estranha...uma lixeira em plena sala?! ( Dá de ombros) Melhor,
assim jogo essas armas aqui.
Alô, mamãe!! Sou eu, graças a Deus que te encontrei em casa... Estou,
estou sim. Falei com ela mamãe, falei...de...deixa eu falar só um instantinho!
A mulher é completamente louca! Maluca mesmo! A senhora não imagina, assim que
eu cheguei ela até que me recebeu bem...Não , eu ainda não recebi o dinheiro.
Mas deixa eu contar, assim que eu cheguei ela até me recebeu bem, parecia uma
pessoa muito distinta, muito educada...O quê?...Claro que ela é
rica. O problema não é esse, é que logo após termos conversado um
pouco ela... Como é que é? ... a senhora o quê?... ( Expressão aflita ) A
senhora gastou por conta, dois mil reais!!Ficou doida? Eu ainda nem recebi e a
senhora já gastou? ...Cartão! Sei... Dois mil e oitocentos?! Eu nem sei se vou
conseguir os dois mil e a senhora quer que eu peça mais oitocentos?! Mas será
que não entende?! Se demorar muito aqui vou voltar pra casa dentro de um saco
plástico. ...( Ar magoado) Como é que a senhora pode dizer uma coisas dessas
mamãe? Eu sou seu único filho...Sei...Se dentro
do saco plástico tiver os dois mil e oitocentos , tudo bem...A senhora não tem
coração mamãe...Vem vindo alguém ! ( Desliga )
Eu fiz um pedido , pensei que tivesse vindo entregar. E o pior que
esqueci para onde foi. Não sei se foi o disk-pizza,disk-galeto,
disk-medicamento... Sou tão esquecida. Mas de qualquer forma, assim que o rapaz
chegar o senhor manda ele dar uma chegadinha na minha cozinha?
Melhorou. De vez em quando ela tem isso, mas não é nada sério, não
precisa se preocupar. A propósito ( Senta-se ao lado dele no sofá) , ela teria
, por acaso, dito ou feito alguma coisa , digamos, estranha?
Tem certeza? A Suzamara, ou melhor, não propriamente a Suzamara , mas um
outro lado dela não teria se manifestado e dito alguma coisa estranha ou
estapafúrdia sobre a minha...cozinha?
Não!!
Eu vou filhinha, mas tem de me prometer que o senhor Altamirando não vai
embora sem antes dar uma passadinha na minha cozinha e provar dos meus
quitutes.
Mesmo porque ele não poderia sair, já que acionei o sistema de segurança
travando as portas , janelas e ligando a cerca eletrificada. Aproveitei e
soltei os cachorrinhos.
Já tivemos. Vários até. Mas estranhamente e sem uma explicação, de uma
hora pra outra eles desapareciam...
Entra o Moto-boy.
Veste macacão de chuva , o capacete ajeitado na cabeça deixando o rosto de fora
e nas mãos um pacote.
Ninguém vem trazer encomenda na minha casa e sai sem tomar um cafezinho.
A propósito ...o senhor veio trazer o que mesmo?
Com certeza. Mamãe só deve ter desligado pro rapaz entrar. Mas deixemos
ela de lado. Acho que lhe devo algumas explicações. Afinal se o senhor cogita
ter um relacionamento serio comigo tem de estar a par de
tudo. Principalmente o que diz respeito a meu problema. É
tão difícil pra mim falar sobre isso...
Entra dona
Izildinha trazendo nas mãos as coisas do moto-boy ( O macacão, o capacete e o
pacote). Ela joga tudo dentro da lixeira. Em seguida volta pra cozinha.
Não sei como o senhor vai receber o que tenho a lhe dizer, senhor
Altamirando,mas...devo lhe confessar. Tenho múltiplas personalidades.
Se eu não errei na conta, até agora foram três. Aliás...a
senhora é a primeira, não é? A que me recebeu assim que cheguei?!
Fico feliz em ouvir isto. ( Para si mesmo) Na
cerca eletrificado eu jogo um balde de água e ela entra em curto.
Mas e os cachorros? Como é que vou passar por eles?
Mas e essas personalidades que se manifestaram, elas fizeram alguma
coisa que eu, Suzamara, jamais faria? Por favor , não me esconda nada.
Uma quis me untar com maionese e outra me dar um tiro. Teve
uma também que quis me fazer ouvir Ray Coniff , mas esta eu acho que
é a senhora.
Que vergonha , meu Deus! Senhor Altamirando eu não tenho palavras pra me
desculpar... Não sei o que fazer pra me retratar com o senhor.
Eu sei!!! ( Fica de joelhos diante dela, mãos unidas numa atitude de
súplica ) Me ajude a sair daqui, pelo amor de Deus! Eu lhe imploro!
Que isso senhor Altamirando? Por que está apavorado desse jeito? Nesta
casa estão apenas eu e minha mãe, duas mulheres indefesas.
Eu trouxe bolinhos de carne para o senhor experimentar. ( Coloca a
bandeja praticamente na cara dele ) É a minha especialidade.
Altamirando olha
para lixeira, depois para os bolinhos, repete isso várias vezes deixando claro
que são feitos do Moto-Boy.
Repare no aroma senhor Altamirando. Não é qualquer carne que tem esse
perfume. Sabor igual o senhor jamais provou na vida.
Desde que eu entrei no templo do grande guru Ali Bem Ali e ele disse: “
Eis um homem completamente dominado pelo vicio da carne. Mas eu ,
Ali Bem Ali, vou curá-lo.”
Não insista mamãe. Não vê que se trata de convicção filosófica? Se o
senhor Altamirando quiser, depois ele prova. Venha comigo, vamos lá dentro ter
uma conversa, preciso também passar mais uma água no rosto. O Senhor
Altamirando me fez revelações muito serias.
É tudo mentira filhinha! É tudo mentira!! Eu sigo rigorosamente os
preceitos da cozinha maravilhosa da Ofélia! Não me afasto um
milímetro.
Desculpe deixá-lo sozinho mais uma vez, senhor Altamirando, mas já
voltamos. Se lhe der vontade, coma um bolinho.
ALTAMIRANDO ( Com o bolinho na mão )
Eis mais uma vitima de acidente de trabalho no Brasil. Arriscava a vida
diariamente pilotando sua moto, sabe Deus de quantos ônibus e caminhões ele
escapou. Tudo pra acabar no microondas de dona Izildinha. Que ironia... (
Coloca o bolinho de volta penalizado ) Vai meu irmão. Tu era um valente! Com o
teu passamento, eu tenho certeza que não ficara um só anjo mijado no céu. (
Olha o telefone ) O telefone! Já sei, vou ligar pra polícia. Nos filmes, numa
hora como essa, você liga e ninguém atende. .... Atenderam! Obrigado meu Deus!
Eu preciso de ajuda! Tem uma antropófaga querendo me comer! Vocês tem de mandar
uma viatura aqui urgente!! O endereço é...Como? ... Não é com você, tem de
transferir a ligação. Desculpe , ta...eu espero. ... ( Olha em direção a
cozinha aflito ) Alô, pelo amor de Deus, eu preciso de uma viatura urgente! Tem
uma antropófaga querendo me comer! ...Ah, é a mesma moça de antes..,ainda não
transferiu...ok... Eu sei, eu to meio exaltado. É que tem uma mulher querendo
me comer... Que demora, daqui a pouco elas voltam. Alô! Eu preciso de ajuda meu
senhor, tem uma maluca... Como é? O senhor poderia repetir... Mas
que IPVA , meu senhor... Eu não tenho carro e o senhor não me conhece, como
pode afirmar que meu IPVA está vencido ? ... O senhor só cuida disso, sei...Não
tenho culpa se transferiram pro senhor, eu liguei pra pedir socorro. Não, não é
pra pagar o IPVA, certamente! Agora me transfere pra polícia
propriamente dita. ... Alô, é um policial que está falando? Tem certeza?
Daqueles que dão tiro em bandido? ... Graças a Deus!! Preciso de uma viatura
urgente! Tem uma maluca querendo me comer!! ... Isso. Ta querendo me comer. ...
Gay? Que Gay?Não meu senhor, a maluca é uma mulher louca. Ela é antropófaga,
ela come gente. Não entende, ela ta querendo me comer! ... não, ela não disse
textualmente, apenas deu a entender que sim... eu tenho que aguardar a
confirmação do ilícito pra depois denunciar?! O senhor quer que eu
ligue da barriga dela ou prefere uma mensagem num centro espírita ? Pelo amor
de Deus meu senhor! Eu não queria usar esse tipo de argumento, mas é bom que
saiba que sou sobrinho do secretario de segurança. Eu havia ligado pra seu
gabinete mas como ele não estava, me dirigi a seus subordinados
achando que teria a mesma atenção . o que não está acontecendo, já que corro
perigo e vocês são incapazes de mover um dedo pra me ajudar. E tem mais! Além
de gente, essa mulher come também Mico-Leão-Dourado. Que eu contei ,
são pra mais de vinte que ela tem aqui. Tem até um mico-leão verde de cara roxa
que a ciência ainda nem descobriu que ela está guardando pra servir como prato
principal... O senhor vai dar um jeito. ... Sei. O endereço é Rua das
Orquídeas, noventa e nove. Não encare como uma ameaça, mas se dentro de cinco
minutos não tiver uma viatura aqui na porta, vou cuidar para que titio tenha
uma conversa com o senhor. Conversa que lhe garanto, não vai ser tão
amena quanto essa! ... não preciso das suas desculpas, preciso das suas
viaturas! Tenha um bom dia...
Antes de ter tempo
de colocar o fone no gancho, ouve-se o som de uma sirene da
polícia. Altamirando fica imóvel com o telefone na mão. Som de
descarga elétrica, em seguida de um portão sendo arrombado. Som de cachorros
atacando alguém, depois tiros . Mais cachorros e mais tiros. Som de uma porta
sendo arrombada. Entra em cena um policial todo rasgado e chamuscado com o
revólver em punho.
Recebemos uma denúncia de que tem um estuprador gay querendo comer o
mico-leão-dourado do sobrinho do secretario de segurança!
Isso que ouviu. Éramos cinco. Dois morreram na cerca
eletrificada e mais dois foram mortos pelos cachorros. Só sobrou eu.
Cadê o estuprador?
Nunca conheci vagabundo que não fosse mentiroso. Eu sou um
policial treinado. Percebo o delito pelo cheiro. ( Aponta para as
duas ) vê-se logo Que são pessoas distintas, incapazes de fazer mau a uma
mosca. Quanto ao senhor, bati o olho e vi que não prestava.
ALTAMIRANDO ( Aflito )
NÃO!!! Pelo amor de Deus! Me prenda! Me prenda! (Estica as mãos para
colocar algemas) Fumei mesmo maconha. Fumei um quilo! O outro quilo
eu vendi pras criançinhas que fazem prezinho aqui do lado.
Exatamente. Assim dessa maneira não se diz, mas se analisar verá que é
carne de motoqueiro. ( Lembrando) A cozinha! Claro! O resto ela deve ter
colocado no freezer. Basta que olhe a cozinha e verá que não estou mentindo. O
senhor tem que ir lá! É tudo que lhe peço.
Ótima idéia. Assim eu aproveito e lhe sirvo alguma
coisa. Ninguém vem a minha casa e sai sem ao menos tomar um cafezinho.
Eu sou um policial. Um profissional treinado, faixa preta e ainda estou
armado. Como espera que essa simpática senhora me faça alguma coisa?Vamos.
Estou mesmo precisando de um cafezinho.
Você tem de me ajudar Suzamara! Aquele policial corre perigo! ( Ele a
segura ) Você tem de acreditar em mim. Sua mãe é uma assassina! ( Ela parece
não ouvi-lo. Ele a chacoalha ) Suzamara! Suzamara!
Mas não é possível! Essa mulher é igual carro velho sem motor de
arranque. O que eu vou fazer agora?
Eu vou cair fora daqui!! Não tem mais cachorro e o portão está aberto.
Adeus Suzamara! Até nunca mais!
Não é possível...Não pode ser... ( Mais um passo ) Meus olhos me
enganam. Não é real, não pode... Estou vendo coisas! ( Mais um passo ) Você não
pode estar aqui. Não pode. Deve ser o medo, você não é real! É fruto da minha
imaginação doentia. Um pesadelo! Uma alucinação!
Vim impedir que ponha tudo a perder. ( Olha Suzamara desmaiada no sofá)
Deus do céu, o que você fez com essa moça?
Ela apaga a cada cinco minutos e muda de personalidade. Não chega muito
perto, ela pode voltar como alguma coisa que morde. E olhe que dos
doidos aqui ela é a mais mansa. A mãe dela é antropófaga. Já comeu um moto-boy
e agora deve estar desossando um policial!
Pois se elas forem loucas, melhor! Os loucos precisam de alguém que os
represente. Um parente próximo para tomar conta de todo esse
dinheiro.
E tu não vai casar com ela, sua lesma? Molóide! Anda, vê se ela ainda
tem pulso. Parece que nem respira.
Entra dona
Izildinha. ( Cara de quem ia cometer alguma perversidade. Quando vê a mãe de
Altamirando desfaz a cara e em seu lugar surge uma expressão de extrema
simpatia).
D.IZILDINHA
Essa aqui é a delegada Pedrosa do DEIC! Veio negociar a sua rendição. Os
atiradores de elite já estão a postos no outro lado da rua!
É . É Suzamara. Seu Altamirando, o senhor não quer fazer umas
massagens nos pulsos dela pra vê se volta a si? ( Altamirando vai )
Altamirando senta
no sofá ao lado de Suzamara e massageia sua mão. As duas sentam-se no outro. Ar
de velhas amigas. Mãe é toda sorrisos.
E ela parece ser uma menina de ouro. Apesar d’eu ainda não tê-la visto
consciente, percebi logo que trata-se de uma excelente pessoa.
Mas que monte de bobagens você foi inventar! Vê-se logo que essa mulher
não faz mal a uma mosca. Uma senhora tão distinta.
Ta vendo? As pessoas nessa casa te adoram. E Você com essas idéias
estapafúrdias. ( Para Suzamara, esticando-lhe a mão) Prazer, eu sou a mãe de
Altamirando.
Ela permanece
agarrada a ele num longo beijo. Limita-se a esticar-lhe a mão e cumprimentá-la
sem lhe dirigir sequer um olhar.
Dona Izildinha
coloca o chá sobre a mesa. As duas se servem. Altamirando tenta se soltar ,
Suzamara não deixa.
Pois eu conheço um santo remédio contra a bronquite. Receita da minha
vó. É um xarope a base de folhas de Sálvia. É bom que só vendo. Cura até
enfisema.
Altamirando
tenta fugir, Suzamara o agarra e os dois somem atrás do sofá.
Muito pelo contrario. É um poço de timidez. Eu sempre digo a
ela: Suzamara você precisa se soltar mais. Não pode ser encabulada desse jeito.
Assim não arranja namorado.
Não...quase não saio. Filhinho você não quer tomar um chá? A moça
também. ( Para dona Izildinha) É bom, acalma.
Não ligue pra eles , dona Cornélia. É esse calor, mexe com o metabolismo
da gente. Lembra no nosso tempo como era?
E quantas vezes não deve ter sido...anos e anos. Pena não ter tido a
mesma sorte com meu falecido marido.
MÃE ( Parando de repente )
Se
encaminham de novo para cozinha. De novo Mãe para, coça a cabeça parecendo
estar intrigada com alguma coisa.
D.IZILDINHA
D.IZILDINHA
É que eu vi umas esculturas estranhas no jardim. Pareciam corpos de
policiais espalhados...tinham cachorros também... Um leigo chegaria a pensar
que são de verdade. Eu, modestamente, conheço um pouco de arte.
Aquilo faz parte de um cenário. Estão filmando um comercial no meu
jardim. Aliás, o pessoal da produção saiu pra fazer um lanche. Já devem estar
voltando.
Vai dificulta! Dificulta bastante! Eu adoro homem difícil! Faz assim, eu
te agarro de novo e ai você me bate. Mas tem que bater com força.
Não se aproxime de mim! Venha mamãe. Vamos embora desse hospício.
Mamãe... ( Olha para o lado e vê que ela não está) aí meu Deus! Vão comer a
minha mãe!
Entra a trilha do
psicose. Após alguns segundos mãe volta correndo aos gritos.
Perseguida por dona Izildinha empunhando uma enorme faca ( Exageradamente
grande ).
Altamirando roda
de um lado para outro. Toda vez que tenta se aproximar a faca fica voltada para
ele e ele se afasta.
Eu vou salvá-la ! Apesar de
tudo a senhora é minha mãe. Apesar de me tratar como se eu fosse um idiota, eu vou salvá-la dessa assassina! Apesar
de não ter me deixado fazer o curso de veterinária , dizendo que um animal não
podia cuidar de outro. (Para. Dá uma olhada para o estado em que estão suas
unhas) aquilo me doeu tanto... ( Fica de costas para as duas e defronte para o
publico. Ar choroso. Suzamara vem ampara-lo) A senhora sabe como magoar as
pessoas...
Ta vendo Suzamara! Ela nunca tem tempo pra mim! Nunca. Não existe mais
diálogo entre nós. Não existe... ( Encosta a cabeça no ombro de Suzamara )
A mãe consegue
enfim dar um soco em dona Izildinha. A faca cai das mãos dela e as duas ficam
se agarrando, cada uma querendo alcançar a faca primeiro.
E nem adianta dizer que é cisma minha. Na verdade...a senhora nunca me
amou...nunca.... ( Põe o dedo na boca como fazem as crianças. Suzamara o
acalenta )
Como é que um filho pode ajudar a própria mãe a amá-lo? Como ? Isso a
senhora vai ter que conseguir sozinha.
Não mamãe, não. A maternidade não está na senhora. Não está. A senhora
não gosta de mim mamãe. E isso eu não posso mudar.
A Mãe dá um soco
em dona Izildinha e ela desmaia. Mãe enfim pega a faca e
levanta. Leva a mão ao peito como quem esta a beira de um ataque.
Altamirando, de costas, não vê nada disso.
A senhora com certeza não deve lembrar do meu ursinho de pelúcia preto.
( A mãe olha para ele furiosa ) Aquele que a senhora cortou com a tesoura e
jogou no lixo, dizendo que juntava pulga. Saiba a senhora que aquele
ursinho...a... ( A voz embarga, Suzamara o acaricia terna ) Aquele ursinho era
o único amigo que eu tinha. O único! E para que tenha uma idéia do quanto foi
injusta ( Mãe se aproxima com a faca em punho ) eu nunca encontrei uma pulga
nele. Uma que fosse! Mas a senhora não quis saber, não é mesmo? A senhora nunca
quer saber! ( Ela se aproxima mais ainda. Entra a música do psicose ).
Bem filhinho. Acessória é uma coisa que não tem muita importância
imediata e que pode ser discutida noutra ocasião. Por exemplo: o seu ursinho de
pelúcia preto. Você está acompanhando?
Pois bem . Agora essencial filhinho, é uma coisa que demanda
urgência, que não pode esperar um segundo sequer. Por exemplo: a vida da mamãe.
Como eu ainda não tinha te explicado isso, eu vou relevar dessa vez. Mas na
próxima filhinho... EU CORTO TEU PESCOÇO!!
Bem...já que estamos sozinhos e para que não se cometa nenhum equívoco,
queria lembrá-lo da conversa que tivemos no primeiro dia que nos conhecemos.
Minha cara Suzamara, no presente momento o sexo é permitido até pela
igreja. Aliás é a única situação em que eles permitem o sexo sem fins de
procriação . Vão mais longe ! Exigem que ele aconteça para se
consumar o casamento. É a primeira vez que eu e o Papa estamos de
acordo em alguma coisa. E não quero contrariar o santo padre.
Não tem mais nem meio mais! Hoje não há o que te salve. Estou mais
determinado que oficial de justiça sádico. Não tem espaço pra
argumentação.
Exatamente. Você não vai ficar chateado vai? Pense pelo lado positivo,
um homem que casa com uma mulher hermafrodita tem duas fontes possíveis de
prazer. Aliás...passa pra cá esse pote de maionese!
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CUNHA pelo e-mail: altamirando66@hotmail.com.
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Durval Cunha
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